Dez candidatos a Presidente de Junta de cinco partidos e uma lista independente, de três freguesias muito distintas entre si, são os protagonistas desta reportagem que procurou um olhar panorâmico sobre Amarante, Vila Meã e Rebordelo. Da cidade com 11500 pessoas ao território do Marão com 260 habitantes, há muitos sonhos comuns – cuidar dos idosos e ter empregos – mas também urgências bem diferentes.
Amarante, Vila Meã e Rebordelo vão imperiosamente mudar de presidente de Junta no próximo domingo e os dez cabeças de lista a estas freguesias conversaram com a Flor do Tâmega sobre as suas prioridades para os próximos quatro anos. Há cinco partidos na corrida, embora nem todos apresentem lista – há candidatos pelos partidos Coligação Afirmar Amarante (PSD/CDS-PP), Partido Socialista (PS), Bloco de Esquerda (BE), CDU (PCP/PEV) e Chega (CH). Compreensivelmente, é nos dois maiores núcleos urbanos que os partidos mais apostam. Apenas o Chega não apresenta candidato em Amarante, e Vila Meã só não tem candidato do BE. Rebordelo conta com duas candidatas apenas, uma da coligação Afirmar Amarante e outra do PS.
No passado domingo, no feriado de 5 de outubro, percorremos as três freguesias amarantinas dos extremos, desde a ponta sudoeste de Vila Meã até ao extremo norte de Rebordelo, com passagem pelo coração da sede concelhia. Aqui apresentamos um retrato de um território que, apesar de ter uma mesma Câmara Municipal a votos em breve, tem diferentes noções daquilo que é importante ou urgente. Por exemplo, se na União de Freguesias (UF) de S. Gonçalo, Cepelos, Madalena e Gatão (que designaremos abreviadamente por freguesia ou UF de Amarante), se quer arranjar jardins e passeios; em Rebordelo, ainda há estradas principais em terra batida e faz falta assegurar cuidados médicos pelo menos uma vez por mês.
Vila Meã precisa de limpeza, zonas de lazer e boa estrada
Fazendo a primeira paragem em Vila Meã, de manhã, encontrámos a União de Freguesias (Real, Ataíde e Oliveira) num sossego tradicional de domingo. Naquele que é o segundo núcleo urbano do concelho, com 4557 habitantes (dados dos Censos 2021),há quem aproveite para ir ao multibanco, para se demorar na esplanada do café, para ir à missa ou fazer compras. O maior rebuliço acontece, aliás, no Pingo Doce de Real, com um formigueiro de gente a entrar e a sair. Foi ali mesmo que inquirimos a alguns vilameanenses o que mais desejam para a sua terra, com Diogo Magalhães, empresário, a disparar logo: “Uma zona industrial era uma ótima ideia, para termos mais emprego”. Outro dos seus desejos, um percurso pedonal junto ao rio Odres, é partilhado por outros dos seus conterrâneos.
Joaquim Magalhães responde sucintamente: “Trabalho e passadiços!”. Ao seu lado, Natália Pereira avisa que é preciso reparar as piscinas municipais: “É uma pouca-vergonha, chove lá dentro!”. Numa esplanada em Oliveira, um grupo de pessoas toma um vagaroso pequeno-almoço e, sem ninguém se querer identificar, vão-se partilhando desejos para a terra. Falam de espaços verdes para caminhar, passeios para se circular pelas estradas sem medos, investimento em espaços industriais e empresariais “para os jovens se poderem fixar” e ainda algo que faz muita falta a uma população envelhecida, como um lar residencial.

Estas intenções também constam dos programas dos candidatos àquela União de Freguesias que, se não fosse a autoestrada 4 (A4), se sentiria bastante mais distante da sede concelhia. A partir de Real, é de pensar duas vezes em seguir pela estrada nacional para Amarante, em curvas e contracurvas, junto a pedreiras e trânsito de camiões. “Temos melhores acessos para o Marco ou para Penafiel”, assinala o candidato da CDU, Mário Soares, que defende a construção de uma estrada nova e mais digna para Amarante. Pelo menos, o alargamento da estrada atual em alguns pontos, negociando cedência de terrenos, para diminuir a perigosidade das curvas.
Outra das bandeiras da CDU é uma obra de envergadura. Trata-se da construção de uma nova escola primária em Real, junto ao pavilhão gimnodesportivo. “A escola está junto ao cemitério, que não é um lugar adequado. No mesmo local, poder-se-ia ampliar o cemitério e resolver dois problemas”, sustenta. Entre muitas outras propostas no campo da mobilidade urbana e acessos, Mário Soares destaca a melhoria da praia fluvial (que faz parte do Parque de Lazer do Rio Odres) e o acabamento do parque de estacionamento da estação de comboios.
A CDU não conquistou mandatos na Assembleia de Freguesia nas últimas eleições, mas a coligação Afirmar Amarante sim – teve quatro dos nove atribuídos. Henrique Sousa recandidata-se nestas eleições e aponta como uma das prioridades um projeto que, sublinha, tem apoio da Câmara Municipal: a construção de um circuito pedonal entre o novo pavilhão, o estádio e as piscinas (tudo equipamentos municipais), com uma zona de manutenção e um anfiteatro ao ar livre integrados. É que, embora tendo estado na oposição na Junta de Freguesia, a sua coligação governou até agora o Município. “Queremos dar já este primeiro passo de avançar com o circuito pedonal”, refere, sublinhando que este percurso deverá unir-se a um projeto que a sua candidatura partilha com a do PS – a criação de um corredor ecológico ao longo do Rio Odres, com os tais passadiços já referidos por um dos moradores com quem faláramos antes. A concretizar-se, será uma parceria entre várias freguesias, com o apoio da Câmara e da Comunidade Intermunicipal (CIM).
Outro projeto que a coligação Afirmar Amarante e o PS têm em comum é a criação de uma nova zona de lazer, o Parque da Vila. Diferem na localização do dito parque e noutro pormenor: Henrique Sousa projeta-o com ligação ao circuito pedonal. Adquirir uma carrinha de nove lugares para apoio escolar às crianças mais pequenas, aproveitar os três pólos das três Juntas de Freguesia para dinamização cultural e criar uma presença digital digna são outras propostas.
Já Nuno Bernardo, candidato do Chega, considera um desperdício ter os três equipamentos a funcionar e defende a concentração dos serviços da Junta de Freguesia num só edifício, para “dar logo resposta” aos fregueses. “Quero estar presente desde o primeiro momento. Como cidadão e como habitante de Vila Meã, sinto essas dificuldades”, referiu. O candidato propõe utilizar os imóveis assim libertos para outros fins: “Pode-se remodelar os edifícios e criar apartamentos para habitação social”, disse à Flor do Tâmega.
Outra das prioridades do Chega é aumentar o número de cantoneiros ao serviço da vila, intenção partilhada por todos os candidatos. “A limpeza é um problema muito grande”, sublinha Henrique Sousa, que defende “limpeza permanente e eficaz nas ruas e uma boa manutenção dos equipamentos públicos”. A solução passaria, no seu entender, por ser a Câmara a assegurar esse serviço, reduzindo aquilo que transfere para a Junta para esse fim, que é cerca de 96 mil euros por ano,
A limpeza é igualmente uma das prioridades da candidata socialista, Sílvia Araújo, que garantiu, caso seja eleita, começar por “serviços, antes de qualquer obra feita”. “É difícil manter as ruas limpas e há poucos cantoneiros. Há apenas três quando eram 17 em 2017. É muito pouco para Vila Meã”, refere, determinada a pedir que volte a ser instalado um posto de cantoneiros na vila, para limpeza e reparações na via pública.
Vereadora da oposição na Câmara Municipal, esta professora candidata-se à Junta de Freguesia, cujo presidente socialista se retira por cúmulo de mandatos. Recusa, porém, encabeçar uma candidatura de mera continuidade. “É de continuidade e é de rutura”, diz, apontando a quase total renovação da equipa e a inclusão de muitos jovens, com representantes das três freguesias da União. Outras prioridades de Sílvia Araújo passam pela já referida criação do Parque da Vila e pelo corredor ecológico, projetos que podem, como vimos, têm muito em comum com propostas da coligação do PSD/CDS-PP.
Para Amarante, empregos, convívio e arranjos urbanos
Seguindo para a sede do concelho, pelas curvas e contracurvas da estrada nacional 211, ali chegámos ao final de uma manhã soalheira. Está animado e cheio de vida o centro da cidade de Amarante. A mais populosa das 26 freguesias do concelho, com mais de 11.500 habitantes (Censos de 2021) acolhe nesse airoso dia muita gente de fora, que ali vai em passeio ou em turismo. Há vários restaurantes e cafés de portas franqueadas, com filas para almoçar e esplanadas cheias. Há bancas de doces, quiosques e outras lojas abertas, pessoas a conversar na rua. Escutam-se outras línguas e outros sotaques. Uma pequena multidão demora-se no Largo de S. Gonçalo, saída de uma celebração na igreja.

Há cartazes das eleições autárquicas por todo o lado. De tal maneira que, numa pequena volta pela cidade, se consegue fixar o rosto dos candidatos à Junta da União de Freguesias de S. Gonçalo, Madalena, Cepelos e Gatão, que constitui o principal aglomerado urbano do concelho. O PS candidata o atual vereador Carlos Pereira; a coligação Afirmar Amarante lança um estreante na política autárquica, Bruno Costa; a CDU candidata uma política experiente, Lurdes Ribeiro; e o Bloco de Esquerda apresenta o mais jovem candidato, o estudante universitário Paulo Aguiar.
João Moura, 66 anos, e Carlos Pereira, de 71 anos, conversam no centro da cidade e respondem prontamente que “falta muita coisa” em Amarante. “Compor o açude, os velhotes não passam lá”, diz João. Carlos tem mais propostas para arranjos na sede concelhia: melhorias no Parque Florestal (onde “se podia fazer umas boas praias fluviais”, sugere) e no Carvalhido. Sobretudo, defende, era preciso pensar em estratégias para criar emprego e fixar os mais jovens. “O pessoal está todo a fugir de Amarante, se não fossem os imigrantes não tínhamos ninguém de novo. É preciso investimento”, assevera.
Bruno Costa, empresário e presidente da Associação Empresarial de Amarante, aceitou o convite para se candidatar pela coligação Afirmar Amarante por entender que a Junta “nestes últimos quatro anos fez gestão corrente e estava na hora de mudar”. O atual autarca, Américo Paulo Ribeiro, é candidato à Câmara que, recorde-se, está nas mãos da coligação PSD/CDS-PP há 12 anos. Nas eleições de 2021, a maior freguesia urbana inclinou-se claramente para o voto em José Luís Gaspar (o presidente de Câmara que deixou o terceiro mandato antes do término para assumir a administração do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, deixando o vice-presidente e atual candidato à Câmara, Jorge Ricardo, no seu lugar), que conquistou quase mais 18% dos votos que o PS.
No que toca à Junta, porém, os eleitores deram uma diferença de quase 3% de votos ao candidato do PS, atribuindo-lhe a maioria dos mandatos – sete lugares contra os seis da coligação PSD/CDS-PP. Este é, talvez, um daqueles casos que dá razão ao dito popular de que “se vota mais nas pessoas e menos nos partidos”. Bruno Costa conta com isso: “Sou uma pessoa que vem da sociedade civil. Sou do PSD, mas não tinha atividade no partido”, refere, esclarecendo que se candidata por ter decidido responder afirmativamente ao convite direto.
Entre as suas prioridades, destaca o reforço do apoio social na freguesia, dos séniores às crianças, passando pela promoção de relações de vizinhança. Tem intenção de construir um Centro de Dia “digno”, com horário alargado e mais valências; aproveitar os edifícios das Juntas de Freguesia da União para atividades para séniores e juventude; melhorar ou criar espaços de lazer e desporto, no Carvalhido e no Largo da Feira; e ainda apostar em diversas requalificações de estradas e ruas. Neste último ponto, assinala a necessidade de sinalizar melhor o parque de estacionamento do Rossio e melhorar os acessos, “perigosos para quem tem problemas de mobilidade”.
E a ideia que mais aquece o coração de Bruno Costa é a revitalização do tecido social, através de um programa que fomente as relações de vizinhança. Incluiria a criação de uma comissão de vizinhos e um zelador de rua, o incentivo a realizar eventos e a criação de espaços para tal. “Não queremos obrigar as pessoas a aderir a este projeto, mas queremos sensibilizá-las para a vizinhança”, explica.

Os problemas de Amarante, onde está tudo à mão, parecem de “primeiro mundo” quando comparados com as dores de freguesias mais periféricas. Mas ser autarca da freguesia do centro da cidade traz outras dificuldades, concordam os candidatos do PS e da CDU. “Não é das freguesias mais fáceis, há aquela confusão entre aquilo que é da Junta e aquilo que é da Câmara”, assinala a comunista Lurdes Ribeiro.
O socialista Carlos Pereira elenca-nos as intervenções que gostaria de realizar, como melhoria de estradas, construção de um centro escolar em Cepelos, completar o saneamento em Gatão, requalificação do complexo desportivo da Costa Grande (Madalena), a requalificação do Carvalhido (S. Gonçalo). E ressalva: “Nenhuma destas obras é competência da Junta de Freguesia, as nossas competências não têm a ver com isto. Muitas vezes, fazemos projetos – como fizemos para o Carvalhido – e temos sempre que contar com o apoio da Câmara Municipal. O Regime Jurídico das Autarquias Locais dá mesmo muito poucas competências às Juntas”, assinala o candidato socialista.
As Juntas não têm gabinetes jurídicos nem de urbanismo, nem dispensa de pareceres da Câmara Municipal, acrescenta. Assim sendo, “os presidentes de Junta acabam por ser um pouco os ativistas do interesse público”, resume Carlos Pereira.
A candidata comunista pretende focar o seu ativismo nas questões da mobilidade e no apoio social aos séniores e às crianças. “Queremos ir mais longe nas atividades depois das aulas e nas pausas letivas, ter uma intervenção da Junta muito mais proactiva. Os pais não podem estar com eles durante toda a duração das férias e tem que haver uma resposta pública”, sublinha Lurdes Ribeiro. Outra bandeira da CDU é a mobilidade, ligada à geografia de Amarante. “Estamos longe de ter todos os problemas resolvidos para pessoas com mobilidade reduzida ou até para quem anda com carrinhos de bebé”, diz, assinalando que a sede concelhia é “a freguesia que todos calcam porque todos vêm cá tratar de coisas”.
A principal causa do candidato do BE, Paulo Aguiar, é a habitação, um problema transversal ao país. “O preço das casas aumentou 50% nos últimos cinco anos, e 32% só neste último ano”, aponta o estudante universitário de Ciência Política e Relações Internacionais, que conta com uma equipa de jovens na sua lista. Assumir esse compromisso mostra o rasgo da juventude amarantina, sublinha. “É ter coragem de fazer política de forma diferente, pôr as pessoas no centro das decisões e não os grandes interesses”, diz. A solução passa por aumentar o parque habitacional público e ainda transformar casas devolutas em habitação pública de forma a fixar a população que quer viver e trabalhar em Amarante.
“A crise da habitação agrava o problema do envelhecimento populacional”, sublinha. O BE quer ainda limitar o Alojamento Local, apoiar famílias em risco de despejo iminente e, em geral, tornar a Junta de Freguesia um agente ativo na moderação da especulação imobiliária. “Em 12 anos de governação, tivemos apenas alocados 17 milhões de euros para construir habitação com renda acessível. Isso dá cerca de 1,4 milhões de euros por ano que, a preços de mercado, dá oito a dez casas por ano. A Câmara fazer dez casas por ano é manifestamente insuficiente”, protesta.
Rebordelo quer água própria, estradas dignas e apoio médico
A menos de 18 quilómetros e meia hora destes problemas da cidade, encontramos questões bem distintas. Prosseguindo a nossa viagem nesse domingo de sol de 5 de outubro, é preciso andar longos minutos de carro até se ver alguém – mesmo quando se procura encontrar algum dos 267 habitantes de Rebordelo (dados dos Censos de 2021 e seguramente já alterados), como era o nosso caso. Passa-se Fridão, as casas começam a escassear e a serra começa a abundar. Há uma paisagem de beleza e tragédia: boa parte dos montes estão carbonizados pelos incêndios do último verão.
Enquanto a terra ainda carrega um preto espesso, já se veem muitos rebentos de eucaliptos a brotar do solo junto às árvores queimadas, como crias aos pés das suas mães. Não é tanto pelo tempo que se leva entre o centro da cidade e este enorme canto despovoado, já no Marão, que Rebordelo parece tão remota. São cerca de 18 quilómetros sempre com o rio Tâmega ao lado, e com o caminho a despir-se das coisas que constroem os lugares. Deixa de se ver escolas e igrejas, depois as placas a anunciar empresas ou cafés, depois começam a rarear as casas. A dada altura, o asfalto da estrada começa a surgir mais granuloso. Na serra meia enegrecida, com os eucaliptos bebés a trepar pelas pernas das mães, a estrada é estreita e as bermas abruptas levam-nos a pensar em como será aquele percurso nos dias de inverno de chuva, temporal e gelo.
Não há cartazes onde se possa conhecer a cara dos candidatos – e aqui, as cabeças de lista dos dois únicos partidos candidatos, PS e a coligação Afirmar Amarante, são ambas mulheres: Marta Costa concorre pelo PS e Sandra Costa pela coligação, que venceu as últimas eleições. Finalmente, no alpendre de uma casa encontramos vizinhos a descansar à sombra, depois do almoço, com a garridice de vozes infantis como música de fundo. Além de uma ida ao único café, conversar à fresca na varanda é um convívio domingueiro possível na freguesia com menos habitantes do concelho de Amarante.
Ali viviam 267 pessoas em 2021, depois de mais de um quarto da população ter desaparecido no período de uma década – para o cemitério ou para outros lugares onde se possa fazer vida; e, na década anterior, outro quarto ter também deixado de ter ali morada. Desses 267 ali registados em 2021, apenas quatro tinham menos de 18 anos. A paisagem enche os olhos e pouco mais. Há a pequena igreja branca, muito bem cuidada; um café e mais nada: nem mercearia, nem centro de saúde, nem escolas, nem parque infantil, nem centro de dia.

“Aqui não temos nada, temos que ir a Amarante”, dizem-nos logo Alice, Maria, Isabel e Joaquim. Não é tanto a questão de ter transporte para ir, que ele passa ali regularmente, várias vezes por dia, e às vezes as camionetas vão vazias. É mais ter horas razoáveis para voltar e, sobretudo, ter cuidados de saúde de proximidade e de urgência, caso aconteça alguma coisa. “Havia de haver uma ambulância para levar as pessoas que vão fazer curativos. Para ir, tenho que arranjar um táxi ou ajeitar quem me leve”, refere.
Isabel Pimenta, mãe de duas crianças, deixa-as na escola em Fridão. E, felizmente, pode dar uma mão aos mais velhos, o que implica ir para a porta do centro de saúde às 6h da manhã para ter consulta. Joaquim Pimenta, pai de Isabel, explica para onde estão a esvair-se os rebordelenses: “Para Amarante, para o Porto, para o estrangeiro, para onde calhar. Porque aqui só há trabalho na lavoura”, diz. E mesmo assim, predominantemente numa lavoura de subsistência.
Marta Costa, candidata do PS, tem 27 anos e não quer sair de Rebordelo, onde é muito ativa na Associação Cultural e Recreativa e estreante na política. “A freguesia está longe, está isolada de tudo e não há muitos meios que lá cheguem. Temos uma população muito envelhecida que precisa de especial atenção”, diz. Entre essa atenção deveria estar a visita de um auxiliar de saúde pelo menos uma vez por mês e mais serviços que evitem deslocações, incluindo venda ambulante porque muitas pessoas nem sequer têm meios de ir comprar alimentos. “É preciso a freguesia ter nome novamente”, reclama.
Uma das bandeiras pelas quais se vai bater são os acessos, “pelo menos a estrada para Mouquim” – um território onde se produz vinho e mel de excelência que é servido por uma estrada de terra batida. A sua adversária nas urnas, Sandra Costa (coligação Afirmar Amarante) vai também bater-se pela construção de uma estrada digna para Paradança ou que, no mínimo, chegue até Mouquim. Mas também garante que vai lutar “por fazer uma ligação digna aos concelhos vizinhos de Mondim de Basto e Celorico de Basto” e por uma nova ponte para veículos para Celorico. Estas freguesias vizinhas estão unidas pela ponte de arame, mas esta é apenas pedonal. Uma ponte viária permitiria aceder muito mais rapidamente ao Hospital de Amarante, em Telões, e libertaria Rebordelo do seu prolongado isolamento.
Sandra Costa tem ainda no coração do seu programa a manutenção do serviço de distribuição de água sob a alçada da Junta e manter a sua autonomia em relação à concessionária de quase todo o concelho, a Águas do Norte. É um ponto fundamental num concelho que paga a água cara, sublinha. “É desta maneira que conseguimos ter um bem essencial a um preço acessível, com uma qualidade excecional”, sublinha a candidata do PSD/CDS-PP. E outra das suas ideias, que será um conforto para quem resiste ali a viver ali no colo do Marão, é comparticipar aulas de apoio ao estudo para alunos até ao 12º ano e atribuir uma bolsa a universitários, assim como criar apoios para idosos ao nível da companhia, ajudas técnicas e apoio médico.
No próximo domingo, apenas três destes dez candidatos tornar-se-ão presidentes de Junta, mas é certo que muitos deles terão que trabalhar juntos na Assembleia de Freguesia. Nos próximos quatro anos veremos quantos dos seus projetos conseguem realizar.
O caso singular dos independentes de Ansiães
Na freguesia de Ansiães, também colada ao Marão, não há partidos na corrida para a Junta de Freguesia. Ali, o poder está há 12 anos nas mãos do movimento independente Juntos Por Ansiães (JPA) e assim deverá continuar, já que o único candidato, Carlos Carvalho, candidata-se por esta força política. Ansiães é das freguesias com maior dispersão populacional, algo que concorre para a elevada abstenção – cerca de 50% – que teve nas últimas eleições. Mas há também cadernos eleitorais desatualizados, assinala o candidato, afirmando que muita gente deixa de ali viver sem alterar a morada.
Não é fácil morar em Ansiães, onde não há trabalho além da agricultura familiar e o que se perspetiva são raros projetos ligados ao turismo. A freguesia tinha, nos Censos de 2021, 516 habitantes e 200 deles tinham mais de 65 anos. Perdera 23,6% da sua população nos dez anos anteriores e, na década antes dessa, 17,2% por cento. Carlos Carvalho prefere reclamar menos da desertificação e pensar mais em formas de melhorar a vida de quem decide permanecer. Faz parte de uma associação que realiza trabalho social, que vai abrir um lar e centro de dia; e é presidente da assembleia de compartes que gere a Associação do Baldio de Ansiães; estando ligado a outras associações locais e com uma passagem pela direção da Cooperativa Agrícola no currículo.
No seu programa eleitoral, consta a realização de um protocolo com uma entidade de cuidados médicos que assegure visitas regulares e “cuidados de proximidade”. “Vejo o futuro com bons olhos, quero ajudar a criar condições de vida”, diz. Já existe, por exemplo, uma piscina pública com bastante afluência. E o atual Executivo (que Carlos integra) está a trabalhar com a Câmara Municipal para criar um centro de pesca nas margens do rio Marão. Há ainda a intenção de dinamizar um Festival Maronês, onde os produtores possam levar os seus produtos, nomeadamente a carne de espécies autóctones.
“Sou um amante da freguesia. Tenho aqui os meus pais, tenho a minha família e a minha obrigação é criar um futuro para as aldeias”, assevera Carlos Carvalho.
