QUEM TRATA DA SAÚDE DO HOSPITAL DE SÃO GONÇALO?

Com origens ligadas à Misericórdia desde o século XVI, o Hospital de Amarante foi agregado ao Hospital de Penafiel em 2007 e os amarantinos queixam-se de terem ficado sempre a perder nas reformas do SNS. O antigo hospital deu lugar a um novo edifício para moderna cirurgia de ambulatório, mas até políticos rivais concordam que foi “esvaziado”. A população já saiu à rua para defender o seu hospital, mas agora reclama apenas bom senso.

Hospital de São Gonçalo. Foto: Flor do Tâmega/DR

Numa semana em que o Hospital Padre Américo, em Penafiel, enfrentou um surto de gripe que obrigou a ativar o plano de contingência para abrir um internamento com 28 camas extra e registou uma taxa de ocupação de 210%, o Facebook agitou-se com a antiga indignação dos amarantinos em relação ao Hospital de São Gonçalo. Algumas camas foram levadas de Amarante para Penafiel, onde a sobrecarga do serviço e Urgência é uma velha questão – há dois anos, arrancaram as obras de ampliação da urgência médico-cirúrgica, uma das maiores do país, com uma população-alvo de cerca de meio milhão de pessoas de 12 concelhos. E, em outubro passado, a unidade aderiu ao projeto “Ligue antes, salve vidas” que já está em vigor noutros hospitais do país e se destina a evitar a utilização indevida das Urgências, obrigando a uma chamada prévia para a linha SNS 24.

A transferência de camas trouxe à tona, nas redes sociais, a mágoa latente. Hugo Carvalho, vereador do PS, candidato (derrotado) à Câmara nas últimas eleições e deputado na Assembleia da República na anterior legislatura, escreveu um post no Facebook que gerou algumas faúlhas: “A retirada dos equipamentos da ala C do Hospital de Amarante para o Hospital de Penafiel é, para além de um grosseiro erro de gestão, uma machadada nas legítimas expectativas dos amarantinos em ver reforçados os cuidados de saúde na nossa terra. São anos e anos a fio onde o foco foi sempre carregar um hospital central (que estava sem capacidade de resposta) com mais e mais pressão. Quando do outro lado, temos um hospital vazio, com condições físicas excepcionais, mas sem os recursos humanos suficientes”.

Criticado por uns, apoiado por outros, nesse post de 5 de janeiro, o socialista tocou numa corda de assinalável consenso: “Os amarantinos compreendem bem o conceito de urgência básica e hospital central, mas nesta terra sabemos bem o que significa o ‘e tudo Penafiel levou’”, referiu Hugo Carvalho. A Flor do Tâmega tentou falar com o vereador, que acedeu a fazê-lo, sem depois o cumprir. As principais críticas que recebeu de adversários políticos não contrariavam a indignação, mas pediam contas das suas causas: “O que aconteceu ao nosso Hospital de São Gonçalo deve-se, exclusivamente, ao PS autárquico e nacional, que realizou uma reforma vergonhosa para os interesses dos amarantinos, esvaziando os vários serviços existentes e encerrando, inclusivamente, o serviço na maternidade”, assinalou Paulo Vasconcelos, do PSD Amarante (e membro da Assembleia da União e Freguesias de Amarante, pela coligação Afirmar Amarante), acusando Hugo Carvalho de demagogia.

Pedro Cunha, presidente da Assembleia Municipal e médico com longa e conhecida ligação ao Hospital de Amarante – para onde foi, proveniente do Hospital de Santo António, e do qual foi diretor clínico -, reagiu dolorosamente à polémica. O médico frisou que “todos os presidentes do Conselho de Administração desde a criação do Centro Hospitalar” eram homens ligados ao PS, protestando contra a “tentativa de lavar o passado esquecendo os atos de lesaram Amarante e os seus cidadãos”. A Flor do Tâmega contactou também Pedro Cunha que, sem se escusar a falar do assunto, apenas se mostrou disponível para prestar declarações numa data posterior à que estava planeada para a publicação desta reportagem.

Este debate no Facebook contou também com Paula Santos, do Bloco de Esquerda, lembrando que essa reforma hospitalar promovida pelo governo socialista de José Sócrates continuou com o governo social-democrata de Pedro Passos Coelho – e manteve-se com a alternância destes partidos no poder. “Bem sei que se aproximam eleições autárquicas e que vai sendo normal que os ânimos se abespinhem nestas alturas, mas, como amarantinos preocupados com os cuidados de saúde da nossa cidade, parece-me que seria mais produtivo passarem rapidamente da fase de ‘puxar dos galões’ e da atribuição de culpas a terceiros para ações que, efetivamente, possam fazer a diferença e contribuir para que, seja sob que governo for, a situação possa ser resolvida, em prol da nossa população. Caso contrário, tudo soa a tiros de pólvora seca”, concluiu Paula Santos, comentando os supracitados posts. 

Instalações do antigo Hospital Distrital de Amarante, num edifício da Santa Casa da Misericórdia. Foto: Santa Casa da Misericórdia de Amarante/ DR

No meio da discussão, houve quem recordasse os tempos em que a população de Amarante lutou pelo seu hospital. Foi há quase 19 anos que todas as forças políticas do concelho se uniram para promover uma manifestação, que juntou três mil pessoas na rua, no dia 25 de abril de 2006, em protesto contra o encerramento da maternidade e da urgência médico-cirúrgica do hospital. O protesto foi convocado pelo PSD e abraçado por todas as forças políticas representadas na Assembleia Municipal, tendo sido até decidida a não inclusão de símbolos políticos na marcha que começou diante do hospital e percorreu a cidade até à Câmara Municipal. Mesmo assim, a manifestação não conseguiu impedir o fecho daquelas valências. 

Das várias maternidades encerradas nesse ano, por despacho do então ministro da Saúde Correia de Campos, com a justificação de não haver médicos especialistas suficientes, a de Amarante era a que registava um maior número de partos – em média, entre 1100 e 1200 partos por ano. Dez anos antes, em dezembro de 1996, a população de Amarante também saíra à rua, cortando a Estrada Nacional 15, numa manifestação contra a transferência da urgência cirúrgica para o Hospital de Penafiel. Há pouco mais de um ano, a poucos dias do Natal de 2023, nova onda de indignação varreu Amarante, quando o então ainda Centro Hospitalar – agora chamado Unidade Local de Saúde (ULS) – do Tâmega e Sousa anunciou o encerramento da Urgência Básica do Hospital de São Gonçalo. Dada a “indisponibilidade de médicos para completar as escalas de urgência”, fora decidido encerrar aquele serviço entre as 18 horas do dia 24 e as 8h30 horas do dia 25 de dezembro, devendo os doentes dirigir-se ao Hospital de Penafiel. 

O autarca José Luís Gaspar, que poucos dias antes criticava a gestão do Centro Hospitalar numa Assembleia Municipal, não conteve um forte protesto. “Enquanto cidadão e enquanto Presidente da Câmara Municipal de Amarante, não posso deixar de manifestar a minha completa indignação, perante o agora anunciado encerramento da Urgência Básica na noite de Natal. Parece-me a cereja no topo do bolo da insensatez”, referiu, ao Jornal de Notícias. O edil assinalou ainda que “a história dos cuidados de saúde no concelho de Amarante ‘fala por si’: são já mais de dez anos de uma escandalosa falta de aproveitamento das condições existentes do Hospital de S. Gonçalo”, assinalou. Um dia antes da véspera de Natal, porém, a Direção Executiva do SNS anunciou que a Urgência Básica do São Gonçalo estaria, afinal, aberta na noite de Natal.


Comunidade Intermunicipal pediu a ULS

Ao longo do tempo, vários eleitos de Amarante levaram as suas preocupações sobre o hospital aos órgãos do poder local, tanto às Assembleias Municipais como às Assembleias da Comunidade Intermunicipal (CIM) do Tâmega e Sousa – a Flor do Tâmega contactou esses eleitos, como Cândido Zoio, do PS, ou António Araújo, do PSD. O primeiro não respondeu ao email com perguntas que pediu para lhe enviarmos; o segundo preferiu não comentar mais aprofundadamente o assunto. Também não foi possível falar com o presidente da Câmara de Amarante, José Luís Gaspar, sobre aquela que afirmou ser uma das suas maiores preocupações, aquando da tomada de posse do seu terceiro e último mandato, em 19 de outubro de 2021. 

Disse, então, que o Hospital de Amarante se encontrava entre os “quatro eixos que têm de estar acima do interesse partidário” e pelos quais o edil garantiu que se iria “bater para que se encontrem as melhores soluções”, juntamente o caminho-de-ferro, as águas e o Parque Florestal. A Flor do Tâmega tentou contactar José Luís Gaspar desde o dia 25 de novembro, de forma insistente, sem sucesso. Foi possível conhecer algumas das suas posições através do que disse em plenários do poder local ou à imprensa – e é a partir dessas fontes que as apresentaremos ao longo deste artigo. Outro responsável político com quem tentamos conversar, em vão, sobre o Hospital de Amarante foi o presidente da Comunidade Intermunicipal (CIM) do Tâmega e Sousa, Pedro Machado, presidente da Câmara de Lousada. Essa entrevista foi pedida por telefone e por email, e também nunca chegou uma resposta. 

Perguntámos a Pedro Machado como encarava as preocupações dos autarcas face ao “esvaziamento” e “subaproveitamento” do hospital de Amarante, em contraste com uma sobrecarga do Hospital de Penafiel; se considerava que este modelo de ULS satisfazia as necessidades de cuidados de saúde do território; e ainda se tinha propostas para as melhorar no futuro. Este pedido não teve resposta até à publicação desta reportagem, embora a CIM tenha seguramente ideias sobre este assunto, já foi esta entidade que propôs à Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde a criação de uma ULS no Tâmega e Sousa, articulada com o município de Paredes – tal como foi deliberado na 14ª reunião do Conselho Intermunicipal, onde têm assento os presidentes de Câmara, no dia 20 de dezembro de 2022. Nos plenários seguintes, o presidente da Câmara de Amarante tentou aprofundar o debate, enfatizando “a necessidade de se promover uma reflexão tendo como pano de fundo esta sub-região” e apelando à definição de um “modelo de intervenção”, mostrando-se disponível para comparticipar um estudo.

Em março de 2023, uma comitiva da CIM (o presidente, os autarcas de Marco de Canaveses e Celorico de Basto e o Primeiro-Secretário) reuniu-se com o então Diretor Executivo do SNS, Fernando Araújo. Aquele responsável do SNS acolheu bem a proposta dos autarcas do Tâmega e Sousa, que se encontrava, aliás, alinhada com as intenções do Governo. Em outubro do ano seguinte, o modelo das ULS seria generalizado a todo o país, criando 31 novas destas entidades, incluindo a do Tâmega e Sousa. No Conselho Intermunicipal, realizado poucos dias depois daquela reunião, alguns  autarcas pediram prudência na transposição do modelo que teve a experiência pioneira em Matosinhos, nomeadamente o de Penafiel, o de Amarante, o de Resende e o de Celorico de Basto (este último município, contudo, acabou por ficar posteriormente ligado à ULS do Alto Ave).

A CIM Tâmega e Sousa reuniu-se com o Diretor Executivo do SNS em março de 2023. Foto: CIM Tâmega e Sousa/ DR

As diferenças entre os territórios de Matosinhos e do Tâmega e Sousa, como a geografia e as acessibilidades dos concelhos periféricos, foram as preocupações expressas. José Luís Gaspar, por seu turno, desafiou os demais autarcas da CIM a uma visita ao Hospital de Amarante “para um despertar de consciência e para que se promova uma defesa intransigente do que é melhor para a região”. A criação da ULS do Tâmega e Sousa implicou um estudo para o qual seriam ouvidos todos os autarcas da região, e que, assim sendo, se debruçaria sobre estas questões. A Flor do Tâmega pediu também esse estudo à CIM, sem ter tido resposta. Também contactámos o ex-Diretor Executivo do SNS, Fernando Araújo, que declinou falar deste assunto.


Um hospital com 400 anos de história

É compreensível o apego dos amarantinos ao seu hospital, embora ele tenha mudado de localização, passando da sede concelhia para a freguesia de Telões, a meio caminho de Celorico de Basto. Amarante conta com mais de 400 anos de presença de uma entidade de cuidados de saúde, desde que a Santa Casa da Misericórdia abriu um lugar para acudir aos doentes, aos peregrinos e aos pobres, em meados do século XVI. Uma cronologia publicada na Hospital Magazine (a revista do então Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa), de junho de 2017, apresenta algumas datas essenciais da história desta “instituição que marcou uma cidade”. Nesse cronologia, refere-se o primeiro documento – o testamento de um benemérito – que prova que o hospital de Amarante já existia em 1578; o incêndio que consumiu o edifício em 1809, durante as Invasões Francesas; a construção das novas instalações em 1846, no atual Lar António Cândido; e ainda a abertura do (então) novo Hospital no edifício do antigo quartel. Depois do 25 de Abril de 1974, iniciou-se a passagem deste e doutros hospitais centrais e distritais para o Estado e, no final de 1980, a Santa Casa da Misericórdia de Amarante passa de proprietária a senhoria. 

Cronologia publicada na revista Hospital Magazine (edição de junho de 2017)

Em 1994, o Hospital Distrital de Amarante (assim classificado desde 1983) passa a chamar-se Hospital de São Gonçalo e, oito anos depois, é transformado em Sociedade Anónima de capitais públicos, naquele que seria o início de uma tendência de gestão empresarial dos hospitais que teve outros desenvolvimentos – e que levou, poucos anos depois, à concentração de hospitais centrais e hospitais periféricos em Centros Hospitalares. Quando, em 2005, a SA deu lugar à EPE – Entidade Pública Empresarial, os amarantinos já se sentiam lesados pela perda de valências para o Hospital do Vale do Sousa, em Penafiel, tendo-se manifestado, em 1996, contra a transferência da urgência. Quando o primeiro-ministro José Sócrates já andava bem lançado na sua campanha pelos “hospitais de proximidade”, uma grande manifestação apartidária juntou três mil pessoas na rua, em protesto contra o encerramento de valências no São Gonçalo.

Esta filosofia dos “hospitais de proximidade”, que foi a grande bandeira que José Sócrates desfraldou para aumentar a eficácia do SNS, determinou o rumo do hospital de Amarante e de outras unidades mais pequenas, que se tornaram satélites de hospitais maiores e de centros urbanos mais populosos. O modelo suscitou dúvidas e gerou resistência em Amarante, onde se preferia a criação de uma Unidade Local de Saúde mais pequena, para a área do Baixo Tâmega, encabeçada pelo Hospital de São Gonçalo em articulação com centros de saúde. Era essa a preferência do então administrador do hospital, Albano Tamegão, e do presidente da Câmara à altura, o socialista Armindo Abreu. O médico ortopedista que geria o hospital chegou a revoltar-se e a ameaçar demitir-se perante a indefinição do futuro do São Gonçalo: “Não contem comigo para ajudar a levar a urna deste hospital, não sou um boy do partido e não me convidaram para ser o coveiro desta casa”, disse, na altura, à Agência Lusa. 

Ainda no rastro da grande manifestação em defesa do hospital, em junho de 2006, uma comitiva de autarcas locais e o deputado socialista Manuel Pizarro apelaram ao ministro da Saúde Correia de Campos para que fosse aquele o modelo – o da Unidade Local de Saúde de menor dimensão – a ser implementado no Baixo Tâmega, servindo uma população de 175 mil pessoas.  Uma conversa com a administração do Hospital Padre Américo sossegou Albano Tamegão, cujo principal receio era que o Hospital de Amarante se tornasse – tal como acontecera com os hospitais de Peso da Régua e de Ponte de Lima, depois da criação dos Centros Hospitalares de Trás-os-Montes e Alto Douro e do Alto Minho, respetivamente – uma “mera unidade de retaguarda” e de internamento de doentes crónicos. “Se, porventura, o Ministério da Saúde entender que a ULS não é contemplável, resta-nos trabalhar para a constituição de um centro hospitalar em que o hospital de Amarante não perca importância, podendo até ganhar valências, consultas e tratamentos de especialidades que hoje não tem”, sublinhou Albano Tamegão, em declarações à Lusa.

Em 2007, a fusão entre os hospitais de Penafiel e Amarante concretizou-se com a criação do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, uma nova entidade que serve uma população de cerca de 553 mil habitantes, de 13 concelhos, integrados em quatro distritos – Penafiel, Paredes, Felgueiras, Paços de Ferreira, Lousada, Castelo de Paiva, Amarante, Baião, Marco de Canaveses, Celorico de Basto, Cinfães, Resende e Mondim de Basto. O Hospital de Amarante, nesta altura, encontrava-se distribuído por três espaços físicos da cidade. O primeiro administrador do Conselho de Administração do novo Centro Hospitalar foi José Alberto Marques, um homem do aparelho socialista, que liderara a Administração Regional de Saúde do Norte, tendo até guiado a abertura do Hospital Padre Américo, que foi dirigir em 2005. Foi também ele o responsável por todo o processo de lançamento da obra do novo Hospital de Amarante, que não chegou a inaugurar, mas que declarou ter deixado a decorrer dentro dos prazos e sem derrapagens orçamentais – foram ali investidos 40 milhões de euros, com cofinanciamento de fundos comunitários.

A primeira pedra do novo hospital, localizado em Telões, à face da Estrada Nacional 210, foi colocada por José Sócrates; e a fita foi cortada pelo ministro da Saúde de Pedro Passos Coelho, Paulo Macedo. Quem recebeu Sócrates, no papel de presidente do Conselho de Administração, foi o médico José Luís Catarino, outro homem do PS, que sucedera no cargo a José Alberto Marques, com quem não conseguimos falar. Mas José Luís Catarino recordou, à Flor do Tâmega, o espírito otimista do momento. “Estávamos entusiasmadíssimos com poder melhorar o atendimento às populações, esse é o primeiro objetivo de um hospital de proximidade”, declarou, afirmando não estar atualmente a par da realidade do Hospital de São Gonçalo.

O primeiro-ministro José Sócrates na colocação da primeira pedra do novo Hospital de Amarante. Foto: Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa/ DR

Do “hospital de proximidade” ao “vazio”

Para o responsável pela pasta da Saúde no Governo de José Sócrates, Correia de Campos, a evolução do hospital de Amarante era uma inevitabilidade. “O antigo hospital estava situado em terrenos da Misericórdia e tinha dificuldades crescentes de funcionamento. Visitei-o e senti que era absolutamente essencial encontrar um local e construir um novo hospital. Já não se construíam hospitais distritais como antigamente, com médicos de todas as especialidades. Na altura, havia mais médicos do que os necessários, não é como hoje”, disse o antigo ministro à Flor do Tâmega. A inspiração para estes novos “hospitais de proximidade” – que abriram noutras cidades, como Braga, Lamego e Guarda – veio da Extremadura espanhola, onde vários dirigentes hospitalares portugueses foram ver como funcionavam os hospitais em pequenas cidades do interior.

“Eram hospitais sem Ressonância Magnética ou TAC [Tomografia Computorizada], mas com imagiologia, análises, fisioterapia e cirurgia de ambulatório, feita no próprio dia, quando muito com internamento até ao fim da tarde. Que pudessem ter uma pequena unidade de internamento para pessoas idosas que estivessem na fase aguda da doença, que podiam podiam ficar cinco dias e depois seguir para Cuidados Continuados, em articulação com a Segurança Social”, recordou Correia de Campos, que não conhece a situação atual do Hospital de São Gonçalo. “Nunca o visitei, não sei o que se passa, mas a ideia era um hospital de alta resolutividade para as coisas correntes, para as coisas mais comuns, nada de muito sofisticado, esse era o modelo inicial”, assinalou, acrescentando que “os ministros por definição não se concentram nos conceitos técnicos”. Porém, esclareceu o antigo governante, “a ideia era que os especialistas do Hospital de Penafiel fossem regularmente a Amarante, uma ou duas vezes por semana, dar consultas de especialidade e que se deslocassem regularmente cirurgiões” porque “isso é que dava vida a Amarante”.

“Um hospital altamente qualificado qualifica também uma cidade”, afirmou o antigo presidente de Câmara Armindo Abreu à Flor do Tâmega, atribuindo a atual condição de “hospital subaproveitado e insuficiente para a população” do São Gonçalo a “pressões políticas de Penafiel e de Paredes para que os serviços mais qualificados ficassem no Padre Américo”. Não conseguimos contactar o médico Albano Tamegão, mas aquele que foi o edil amarantino entre 1995 e 2013 referiu que “o hospital de Amarante foi concebido sobretudo como um grande hospital de ambulatório e Penafiel ficava sobretudo com serviços mais diferenciados, mas esse programa nunca foi cumprido”. 

Hospital de São Gonçalo, em Amarante. Foto: Flor do Tâmega/ DR

Onze anos depois da inauguração das novas instalações de Telões, Armindo Abreu é categórico na sua desilusão. “Este seria um hospital de tecnologia avançada, mas nunca avançou. Também em termos de consulta ficou muito aquém do que se esperava. Devia servir toda a população aqui do Tâmega, sem ter de se ir a Penafiel”, disse, convicto de que “o compromisso do Estado com o Hospital de Amarante nunca se cumpriu”. Ao invés disso, viram-se “algumas administrações a tentar transformar o Hospital de Penafiel numa referência, como o hospital de São João [no Porto]” quando “deviam concentrar-se em criar serviços diferenciados e não em criar um hospital megalómano e esvaziar o outro”, acusou Armindo Abreu. O seu sucessor na Câmara utilizou a mesma palavra e referiu o mesmo braço de ferro político quando expressou a sua revolta, na Assembleia Municipal de 14 de dezembro de 2023. 

“O Hospital de Amarante é um vazio”, proferiu José Luís Gaspar, recordando o apelo que fez aos seus congéneres para que a Unidade Local de Saúde não avançasse. “Pedi na CIM do Tâmega e Sousa e votei vencido, porque o Sousa tem mais poder que o Tâmega, pelo que não temos tido grande sucesso. Mas, para mim, é um perfeito disparate. Aliás, se falarem com qualquer médico ou responsável do ACES, vão dizer-vos isso. Estamos a falar de dois mil quilómetros quadrados de território, envolvendo também Paredes. É um terror e com uma única estrutura para isto tudo, para 580 mil pessoas”, referiu, temendo que o funcionamento dos centros de saúde possa ficar em causa. O presidente da Câmara recordou ainda a sua oposição ao “modelo copiado de Espanha”, que esteve na base da criação de vários Centros Hospitalares portugueses na primeira década dos anos  2000, por serem realidades diferentes, tendo em conta a autonomia administrativa das regiões espanholas, as suas políticas de coesão territorial e ainda a enorme disparidade no número de médicos formados, muito mais elevado em Espanha.

Foto: Flor do Tâmega/ DR

Para José Luís Gaspar, o hospital de proximidade, necessário para a região e que dava resposta a “80% ou 90% dos problemas”, implicava manter em Amarante “as especialidades básicas, como a medicina interna, cirurgia, ortopedia e pediatria”, mesmo sem a obstetrícia, ainda que o número de partos, naquela altura, o justificasse. O autarca defendia a realização de toda a cirurgia de ambulatório no hospital de Amarante, deixando a cirurgia programada para Penafiel – à semelhança do que acontece na simbiose entre os Hospitais de Gaia e de Espinho – ou ainda que se implementasse uma ULS, mas como a de Matosinhos, “com uma gestão integrada, abrangendo 160 mil habitantes”. 

Finalmente, depois de ter pedido “que cumprissem o acordo assinado, que nunca fora cumprido”, José Luís Gaspar disse ter sugerido que se fizesse uma parceria público-privada: “O Governo estava representado, o privado tinha capacidade de gestão, e começava a funcionar”. Em mais do que uma ocasião, o autarca referiu ser esta uma questão acima de rivalidades partidárias. “Isto não é uma arma de arremesso ao Partido Socialista, até porque isto começou antes, e o PSD esteve antes e eu também fui crítico – sempre fui crítico, porque a primeira coisa que devemos fazer é defendermos o nosso território, as nossas instituições e os nossos equipamentos”, vincou, na já referida Assembleia Municipal de há pouco mais de um ano.


Desempenho do São Gonçalo por conhecer

José Luís Catarino foi o único administrador que foi possível entrevistar e que apenas fez breves declarações. Também não conseguimos contactar Carlos Vaz, que sucedeu a Catarino. Carlos Alberto Silva, o presidente do Conselho de Administração que mais tempo dirigiu o Centro Hospitalar, respondeu negativamente ao pedido de entrevista da Flor do Tâmega. E, no que diz respeito à atual administração, foi feito um pedido de indicadores sobre o Hospital de Amarante, uma entrevista ao presidente do Conselho de Administração, Henrique Capelas, nomeado em janeiro de 2024, e uma visita guiada ao Hospital de Amarante. Tudo foi prometido, mas a concretização dessas informações e entrevista foi-se prolongando para lá da data que consideramos adequada para a publicação desta reportagem. Reportagem essa que, logo que haja novos dados, poderá ter seguimento.

O presidente do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde do Tâmega e Sousa, Henrique Capelas, num evento no Hospital de São Gonçalo, em julho de 2024. Foto: ULSTS/ DR

Uma vez que não há informações detalhadas no site da ULS do Tâmega e Sousa, pesquisámos noutras fontes. Numa entrevista à revista da Associação Portuguesa de Cirurgia de Ambulatório, em setembro de 2022, o anterior presidente do ex-Centro Hospitalar, Carlos Alberto Silva, adiantou os números da cirurgia de ambulatório dessa altura – e os mais atuais que foi possível conhecer. “O Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa realiza anualmente cerca de 16000 cirurgias em regime de ambulatório, num total de cerca de 26000 cirurgias, ou seja, um pouco acima de 60% do total das cirurgias. São realizadas, aproximadamente, metade no Hospital Padre Américo, em Penafiel e outra metade no Hospital S. Gonçalo, em Amarante”, indicou o responsável. Extrapolando estes números, poderemos calcular que o Hospital de São Gonçalo estaria a realizar, em 2022, cerca de 8 mil cirurgias em ambulatório por ano.

A mais recente informação oficial em relação à cirurgia de ambulatório data de setembro de 2021. Em comunicado, o CHTS refere ter realizado 4287 cirurgias em Amarante, representando 31% do total de cirurgias do Centro Hospitalar, e apresenta esses números como sinal de “forte crescimento da atividade no Hospital de São Gonçalo”. Não foi possível confirmar os números de 2022 ou obter, por parte da ULS, os números atuais até à data da publicação desta edição. Na já referida entrevista, o ex-administrador (deixou o cargo no final de 2023) admitia existir um “potencial ambulatorizável” no centro hospitalar: “O inevitável crescimento de espaços, com novas salas de bloco operatório, terão de ser equacionados para que a assistência se faça em patamares de qualidade e em tempo adequado”, indicou. 

No que diz respeito aos profissionais de saúde, na Entidade Reguladora da Saúde o Hospital de São Gonçalo está registado como possuindo valências de Internamento (com cinco especialistas em Medicina Interna e uma grande equipa de enfermeiros), Cirurgia de Ambulatório (com um cirurgião geral), Medicina Física e de Reabilitação (com uma médica especialista, quatro fisioterapeutas e uma terapeuta da fala), Radiologia e Patologia Clínica (com uma médica especialista). Tem ainda uma Urgência Básica, que conta com 16 médicos – seis especialistas em Medicina Geral e Familiar, três especialistas em Medicina Interna, seis clínicos sem especialização e um especialista em Doenças Infecciosas. A outra valência é a consulta externa de Psiquiatria, com sete psiquiatras, dois psicólogos e sete enfermeiros.

Hospital de São Gonçalo, em Amarante. Foto: Flor do Tâmega, DR

Segundo o jornal A Verdade, uma comitiva de deputados do PS eleitos pelo círculo eleitoral do Porto e representantes da concelhia do PS/Amarante reúnem-se esta segunda-feira (13 de janeiro) com a administração da ULS do Tâmega e Sousa, sendo o motivo “a necessidade urgente de fazer ponto de situação  do plano de desenvolvimento da ULS, da ampliação de serviços e da  afetação de recursos ao Hospital de Amarante dado o subaproveitamento dessa unidade de saúde, e do plano de contingência das doenças  respiratórias”. Em novembro passado, aquando da discussão do Orçamento de Estado, os deputados eleitos pelo PCP propuseram a inclusão de um Plano de Capacitação da Unidade Local de Saúde do Tâmega e Sousa, justificado pela necessidade de abrir mais Serviços de Atendimento Permanente (SAP) nos 12 concelhos, entre outras medidas para melhor atender a “uma região empobrecida e envelhecida”.

A proposta foi chumbada na comissão da especialidade, e Alfredo Maia, deputado do PCP eleito pelo círculo do Porto, receia que o futuro seja pouco auspicioso, enquanto se ergue, diante do sobrecarregado Hospital de Penafiel, uma nova unidade hospitalar do Grupo Trofa Saúde. Para Alfredo Maia, é essencial criar um Serviço de Atendimento Permanente (SAP) em todos os concelhos e “aumentar as respostas em Amarante”. “É preciso rentabilizar aquelas instalações, porque são muito mais desafogadas do que as anteriores, mas não tem equipamentos, não tem condições”, exortou. “O desinvestimento é o mesmo que criar condições para o privado”, referiu ainda o parlamentar. 

O novo hospital privado de Penafiel, que foi formalmente apoiado pela Câmara Municipal, no âmbito do Regulamento de Concessão de Apoio ao Investimento Estratégico (RCAIE), poderá realizar anualmente mais de 26 mil atendimentos de urgência e 1500 cirurgias. Também a Câmara de Paços de Ferreira, um concelho abrangido pela ULS do Tâmega e Sousa, se regozijou – e divulgou a abertura – do novo hospital Lusíadas, considerando as potencialidades para uma região com tantos habitantes.


“Rentabilizar é o que é preciso”

Embora a polémica seja acesa nas redes sociais, nas ruas de Amarante o tom é bem mais sereno – os cidadãos ouvidos pela Flor do Tâmega pedem, sobretudo, que o seu hospital funcione para aquilo que foi construído. E ninguém acredita que haja motivo para voltar a fazer manifestações em defesa do Hospital de São Gonçalo, se for aplicada uma solução de bom senso. Maria Antónia Silva, de 61 anos, teve os seus filhos na antiga maternidade e lembra-se de pormenores, como as louças e do bom ambiente que ali existia. “Já não nasce ninguém em Amarante, só se for nas ambulâncias…”, diz a proprietária da Doçaria Mário.

As boas memórias não a cegam de nostalgia: o que a indignou foi amparar o pai com doença cardíaca nos seus tempos finais de vida, sempre a circular entre Amarante e Penafiel. “Ele tinha de fazer controlos de sangue e diminuíram os dias em que se fazia em Amarante, e tínhamos que ir a Penafiel, só por causa disso”, recordou. Custa a Maria Antónia ver pessoas de idade a terem que se deslocar para Penafiel, a usar táxis e ambulâncias “que podiam estar a ser usadas para outras coisas”. “O hospital tem de ter mais valias aqui. Fazem apologias do Ambiente e obrigam as pessoas a deslocar-se por um simples controlo de sangue”, expõe.

Para Joaquim Pinto, “o hospital tem condições para funcionar melhor e isso depende da administração que está a gerir a ULS”. Uma das medidas deveria ser, no seu entender, ter mais médicos de Penafiel a dar consultas de especialidade em Amarante “para evitar as deslocações de pessoas”. Sem necessidade de revoltas, o que é preciso é “rentabilizar mais”, sublinha o aposentado, de 67 anos. “O hospital é novo, mas não ficou como devia ter ficado. Com as instalações que tem, devia ter mais aproveitamento”, refere Maria Alcina, residente na Lixa, com algumas experiências menos agradáveis no atendimento do São Gonçalo, e de passagem por Amarante quando questionada pela Flor do Tâmega.

Hospital de São Gonçalo, em Amarante. Foto: Flor do Tâmega/ DR

Vítor Hugo Ferreira, de 67 anos, olha para o Hospital de São Gonçalo como “um desperdício muito grande”. “Não tem médicos, não tem valências, quando temos o nosso hospital central de Penafiel sobrecarregado e sem camas”, diz o contabilista aposentado, que declara ter sido sempre bem atendido nos dois hospitais. Não passa pela cabeça de Vítor resolver o assunto com ações de rua, apenas com boa gestão. “Rentabilizar é o que é preciso!”, insiste. Com escasso movimento em seu redor, o edifício cinzento do hospital emoldurado por relvados, árvores e campos agrícolas, tem um certo ar de navio perdido, visto a partir da EN210. Lá dentro, porém, grandes janelas enchem de luz as suas salas. Quem vai tratar da saúde do Hospital de São Gonçalo?

CRONOLOGIA: DOS PROTESTOS À NOVA ULS

25.04.2006 – Cerca de três mil pessoas saem à rua em Amarante, numa manifestação contra o encerramento da maternidade e da urgência médico-cirúrgica do hospital. O protesto foi convocado pelo PSD e abraçado por todas as forças políticas representadas na Assembleia Municipal, tendo-se até decidido não incluir símbolos políticos na marcha que começou diante do hospital e percorreu a cidade até à Câmara Municipal. Apesar da adesão, a manif não conseguiu impedir o fecho daquelas valências. 

28.09.2007 – São criados o Centro Hospitalar do Porto, EPE, e o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, EPE., através do Decreto-Lei n.º 326/2007, de 28 de setembro. A implementação do modelo de gestão empresarial nos hospitais públicos iniciara-se durante o Governo de Durão Barroso, mas o seu sucessor José Sócrates abraça a promoção dos chamados “hospitais-empresa”, que substituíram os anteriores Hospitais SA, no sentido de promover “a eficácia e eficiência dos recursos do SNS”. O setor público empresarial conta hoje com 42 estabelecimentos, entre as Unidades Locais de Saúde (ULS) e os três institutos de oncologia. Neste conjunto, incluem-se os cerca de 110 hospitais públicos portugueses, um número que se tem mantido estável desde a criação dos hospitais EPE.

01.10.2007 – O Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS) entra em atividade, formalizando a fusão dos Hospitais Padre Américo, em Penafiel, e de São Gonçalo, em Amarante. De acordo com a caracterização da empresa depositada na Direção-Geral do Tesouro e Finanças, a nova entidade serve uma população de cerca de 553 mil habitantes, de 13 concelhos, integrados em quatro distritos – Penafiel, Paredes, Felgueiras, Paços de Ferreira, Lousada, Castelo de Paiva, Amarante, Baião, Marco de Canaveses, Celorico de Basto, Cinfães, Resende e Mondim de Basto. Nesta altura, a atividade da unidade hospitalar amarantina distribui-se por três espaços físicos da cidade, sendo dois deles pertença da Santa Casa da Misericórdia e um outro cedido gratuitamente pela Câmara Municipal. No edifício principal, encontram-se os serviços de urgência, internamento, imagiologia e administrativos; e noutro edifício anexo, a consulta externa. 

31.10.2007 – São nomeados os membros do Conselho de Administração do CHTS, encabeçado por José Alberto Marques – médico especialista em Medicina Familiar, com experiência em gestão hospitalar, ex-deputado do PS e ex-autarca local em Guimarães. José Alberto Marques, que presidiu à Administração Regional de Saúde do Norte entre 2001 e 2002, foi responsável pela abertura do Hospital do Vale do Sousa/Padre Américo, que foi dirigir em 2005; tornando-se depois, em 2007, o primeiro presidente do Conselho de Administração do novo Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, onde esteve até maio de 2010. No seu currículo, destaca, neste capítulo, ter liderado o lançamento e o arranque da obra do novo Hospital de Amarante, que deixou em fase adiantada e sem derrapagens em relação ao plano aprovado. 

31.01.2008 – A Câmara de Amarante e a Administração Regional de Saúde do Norte assinam o contrato de cedência de um terreno com cerca de 75 mil metros quadrados, em Telões, junto à variante do Tâmega (EN210), para a construção do novo Hospital de São Gonçalo. O terreno destinado à construção de uma unidade moderna de ambulatório foi cedido ao Ministério da Saúde no regime de “direito de superfície” pelo período de 90 anos, prorrogável a cada vinte anos. Com o desígnio de reduzir as listas de espera, o novo hospital deveria realizar 40 cirurgias por dia, equipado com três blocos operatórios e 60 camas de internamento.

18.08.2009 – É simbolicamente colocada a primeira pedra do novo hospital de São Gonçalo, com a presença do primeiro-ministro socialista, José Sócrates, e do secretário de Estado da Saúde, Manuel Pizarro. A empreitada, adjudicada à construtora Conduril, arrancara em julho. O custo do novo hospital está orçado em 40 milhões de euros, sendo 25 milhões destinados à construção e 15 milhões à aquisição de equipamento técnico e cirúrgico. Houve lugar a co-financiamento comunitário no valor de 17 milhões (metade do valor inicial elegível) através do então Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN).

05.03.2011 – Com o médico José Luís Catarino, um homem do Partido Socialista, no lugar de presidente do CA do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, o primeiro-ministro José Sócrates visita as obras do novo Hospital, afirmando que a reforma na rede hospitalar em curso promovia um Serviço Nacional de Saúde “mais eficaz, prestando melhores cuidados à população”. “Venho aqui assinalar um dos hospitais que está em construção e que resulta dessa reforma, para concentrar os recursos, em particular os recursos humanos, porque quanto mais juntos estiverem haverá melhor saúde para as pessoas”,diz o primeiro-ministro.

25.03.2013 – O novo Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa assume funções, encabeçado por Carlos Alberto Vaz, até à data presidente do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro. Tal representou um regresso ao Tâmega para o administrador, que fora diretor do Hospital de São Gonçalo entre 2002 e 2005 antes da criação do Centro Hospitalar. 

29.04.2013 – O Ministro da Saúde do Governo, Paulo Macedo, membro do Governo de Passos Coelho, inaugura o novo Hospital de Amarante. O edifício, da autoria do arquiteto David Correia, tem uma área bruta de 23 mil metros quadrados e insere-se num terreno com mais de 75 mil metros quadrados. Está equipado com Bloco Operatório com três salas de operações e uma Unidade de Recobro com 16 camas e seis cadeirões. O internamento conta com 60 camas (trinta camas para internamento geral, divididas por 15 enfermarias de duas camas, e outras trinta distribuídas por quartos individuais, com instalações sanitárias privativas e possibilidade de permanência de acompanhante). A Consulta Externa conta com 26 gabinetes e introduz novas especialidades relativamente às que existam na antiga unidade, como Pneumologia, Neurologia, Endocrinologia, Gastroenterologia, Oftalmologia, Otorrinolaringologia, Estomatologia, Urologia e Cirurgia Plástica. Conta com serviço de Medicina Física e de Reabilitação, equipado com ginásios.

23.02.2014 – O Hospital de Amarante inicia um programa de cirurgia ortopédica, destinado a patologias do joelho, da mão, do ombro e do pé, esperando aumentar a produção cirúrgica do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa em cerca de 15%. Ao mesmo tempo, o diretor do serviço de Ortopedia, Carlos Sousa, anuncia a intenção de iniciar, em breve, cirurgias num campo tradicionalmente realizado em regime de internamento em ambulatório, como as da coluna, nomeadamente hérnias discais.

07.03.2014 – Abre o hospital de dia no Hospital de Amarante (um serviço de internamento parcial, até 24 horas, para apoio a doentes em ambulatório), com várias especialidades, como urologia, gastroenterologia, pediatria, cardiologia e medicina interna. Nesta altura, já aqui funcionava o hospital de dia de Psiquiatria e de Medicina Física e de Reabilitação.

04.04.2016 – O Governo nomeia a nova equipa do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa. Carlos Alberto Silva, militante do PS, sucede a Carlos Vaz no cargo, onde ficará até ao final de 2023. Filipa Carneiro é nomeada como diretora clínica. O gestor esteve à frente da entidade durante a pandemia da Covid-19 e, aquando da sua substituição, em dezembro de 2023, admite ter recebido a notícia com “ surpresa, desilusão e frustração”.

29.04.2019 – No sexto aniversário do Hospital de Amarante, celebrado com uma exposição de fotografias e peças sobre a História da instituição, é anunciada a decisão de voltar a nomeá-lo como Hospital de São Gonçalo. Na ocasião, é ainda assinalada a cedência do antigo placard com o nome do hospital ao Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa pela Santa Casa da Misericórdia de Amarante. “As instituições são isso mesmo, não são os edifícios, são as pessoas e as memórias”, refere, então, o presidente do Conselho de Administração, Carlos Alberto Silva. No editorial da Hospital Magazine desse ano, publicada em junho, o administrador reconduzido, deixa clara a intenção de promover uma “maior dinamização do Hospital de São Gonçalo, dando assim maior solidez ao caminho realizado no mandato anterior”.

10.09.2021 – O Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa dá conta de um “forte crescimento da atividade no Hospital de São Gonçalo” ao longo dos últimos anos, em especial no número de cirurgias, tendo conseguido promover a redução de listas de espera, mesmo com o impacto da pandemia de Covid-19. Das 2456 cirurgias realizadas em 2016, passou-se para as 4828 em 2019 e, naquele ano de 2021, havia já 4287 cirurgias realizadas até agosto – representando 31% do total de cirurgias.

16.11.2022 – Na abertura do Plano de Actividades e Orçamento para 2023, o presidente do Conselho de Administração, Carlos Alberto, assinala que “cada vez mais doentes que são tratados diretamente no nosso Centro Hospitalar, sem necessidade de transferência para os grandes Hospitais do Porto”. Refere ainda não ter havido dificuldade na fixação de jovens médicos e ser o do Tâmega e Sousa “um dos Centros Hospitalares com melhor resposta no acesso para as cirurgias”, apesar das limitações na área das consultas e da necessidade de obras de ampliação da urgência (previstas nesse orçamento). 

07.10.2023O Governo generaliza o modelo de gestão das Unidades Locais de Saúde em todo o Serviço Nacional de Saúde, criando 31 novas ULS, incluindo a do Tâmega e Sousa. O país passa a ser servido por 39 destas entidades que integram os hospitais com os centros de saúde, concentrando recursos humanos, financeiros e materiais. A primeira Unidade Local de Saúde criada em Portugal foi a de Matosinhos, em 1999, e um estudo realizado por Luís Velez Lapão sobre essa experiência pioneira aponta para o facto de levar tempo para que estes “hospitais sem barreiras” (“boundaryless hospitals”) possam provar o seu valor. 

30.01.2024 – A Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde nomeia os Conselhos de Administração de sete novas Unidades Locais de Saúde, entre elas a do Tâmega e Sousa. Henrique Machado Capelas é o novo presidente do Conselho de Administração e Nelson Pereira torna-se diretor clínico para a área dos cuidados de saúde hospitalares. Henrique Capelas tem formação em gestão de saúde e uma grande experiência profissional na área. Já o diretor clínico Nelson Pereira, até então diretor da Unidade Autónoma de Gestão de Urgência e Medicina Intensiva do Centro Hospitalar Universitário de São João, tem vasta experiência em medicina de emergência. A nova entidade abrange 12 concelhos, já que Celorico de Basto passa a integrar a Unidade Local de Saúde do Alto Ave.

28.02.2024 – Numa cerimónia no Auditório do INFARMED, em Lisboa, decorreu a cerimónia de assinatura dos Contratos-Programa 2024-26 das 39 Unidades Locais de Saúde e três Institutos Portugueses Oncologia, incluindo a ULS Tâmega e Sousa, representada por Henrique Capelas.

08.11.2024 – O deputados do Partido Comunista Português (PCP) na Assembleia da República propõem a inclusão de um Plano de Capacitação da Unidade Local de Saúde do Tâmega e Sousa, em sede de Orçamento de Estado (OE), justificado pela necessidade de abrir mais Serviços de Atendimento Permanente (SAP) nos 12 concelhos e um reforço da resposta na área da reabilitação física, entre outros. “A ULS Tâmega e Sousa abrange uma região empobrecida e envelhecida, onde muitos serviços públicos têm sido encerrados e enfraquecidos, onde falta uma rede de transportes públicos capaz de servir condignamente os que aí residem e trabalham”, referem os parlamentares comunistas. A proposta foi chumbada na comissão da especialidade. O OE para 2025 foi aprovado em 29 de novembro, com os votos favoráveis dos partidos do Governo, PSD e CDS, a abstenção do PS e o voto contra dos restantes partidos, e publicado em Diário da República a 31 de dezembro de 2024.