Por uma cultura de consumo de cultura

Fui pela primeira vez ao cinema ao Cine-Teatro de Amarante. Eu e tanta gente da minha e de outras gerações. Fui ver o Bambi. Seguiram-se muitos outros filmes, por uma adolescência de Indiana Jones e Top Gun, como deve ser. Mais tarde, fui (já à noite, mas com a minha tia Ana) ao – à altura – novinho Teixeira de Pascoaes ver o África Minha. Lá, seguiram-se muitos outros filmes (já não só blockbusters), até ir estudar para Braga. Diria que muitos se reconhecerão nestas memórias. E noutras: por exemplo,  ir, em setembro, comprar os livros à Livraria Zé. E não deve haver amarantino que não tenha sido “apanhado”, pelo menos uma vez, pela lente de Eduardo Teixeira Pinto. A reportagem da Dora Mota passa por isto e por muito mais. É uma radiografia à Cultura em Amarante. Mas, se lhe perguntarem, vai dizer-vos que deixou ainda muito de fora. E deixou. E por isso voltaremos aos assuntos da Cultura noutras ocasiões.

Sabermos que muito ficou de fora é reconfortante e animador. Significa que há muito quem se mexa pela cultura em Amarante. Instituições e pessoas. E há diversidade de iniciativas e de espaços. Pode dizer-se que há para todos os gostos. Mas não é uma jornada isenta de dificuldades, para quem aposta em promover e programar cultura em Amarante: muitas vezes falta financiamento suficiente ou faltam espaços adequados. E falta gente. Nem todos se podem queixar de falta de público, é certo. Veja-se o exemplo da Orquestra do Norte. Mas nem sempre é fácil ter audiência.

Ao que parece, esta dificuldade não tem feito cruzar os braços aos operadores culturais. Vão sendo perseverantes na vontade de ajudarem a instalar em Amarante uma cultura de consumo de cultura. O que passa, como bem sabemos, pela formação de públicos. Porque a casa cheia da Orquestra do Norte não aconteceu instantaneamente. Foi um trabalho de anos de formação de um público que começou a chegar mais cedo para ter lugar – um problema agora resolvido com a reabertura do Cine-Teatro. É um trabalho a longo prazo, mas as sementes têm sido lançadas. E os públicos não têm de ter todos a mesma dimensão: ter “casa cheia” pode significar coisas bem diferentes consoante a iniciativa.

E é preciso que as pessoas saibam o que acontece. Por muito boa que seja a programação cultural, de nada serve se a divulgação não chegar a todos. Por canais diversos, sem cairmos na ilusão de que basta informar pelas redes sociais ou por via digital. São canais essenciais nos nossos dias, sim, mas excluem franjas da população que não sabem usar essas ferramentas ou não as querem usar. Mas querem ir a eventos culturais. Por isso, divulgue-se por todos os canais possíveis, incluindo os mais antigos e o boca a boca, que há-de ser sempre o mais eficiente.

E divulgue-se por todo o concelho e o que é de todo o concelho, porque Amarante tem 26 freguesias. Vinte e seis. Em agosto  a Flor do Tâmega já saiu do centro urbano, mas não chega. Porque a cultura que se faz pelo território não urbano é mais do que Festas. Desta vez, a Flor do Tâmega ficou pelo centro urbano. Mas havemos de ir mais longe.