Muito mais do que “só” desporto

Nesta edição de julho, em que as aulas terminaram e já há muitos amarantinos de férias (ou a pensar nelas), olhamos para um tema que traz já um cheirinho de regresso às aulas e às atividades extracurriculares e vem bem a propósito da jornada da seleção portuguesa de futebol feminino no Mundial: a formação desportiva. Mobiliza jovens e treinadores, boleias de pais, avós, tios e tias, claques, alegrias e desilusões, cansaço e energia, camaradagem e resiliência, medalhas e voos olímpicos. A História da Ana Filipa Gomes fala de tudo isto. E de outros aspetos não menos importantes, como a falta de infraestruturas, a raridade do desporto adaptado e a falta de futebol feminino. Parece haver um caminho por fazer, no sentido de mais equidade e inclusão, mas percebe-se vontade de o trilhar, por parte de atletas, pais,  associações e poder público.

A ideia de que, de facto, a formação desportiva é um desígnio comunitário é comum à Opinião de Bruno Teixeira e Emanuel Figueiredo. Cada um a seu modo, como se quer em matéria de opinião, veem na formação em desporto benefícios que vão muito para além da forma física e marcam os percursos de quem tem a oportunidade de beneficiar de prática desportiva estruturada e bem orientada. Essas marcas são visíveis na escola, no trabalho em equipa até no trabalho.

Todos os testemunhos que trazemos nesta edição da Flor do Tâmega remetem-nos para a ideia de que quando falamos de desporto de formação falamos de mais do que apenas de prática desportiva. Fala-se, claro, de múltiplos benefícios físicos e psicológicos, mas também de uma prática que, exercida num contexto social, é palco das mesmas forças e fenómenos vivenciados na sociedade em geral. Por isso, pode ser também lugar de excessos, de intolerância, de falta de recursos  e de desigualdade. A boa notícia é que as vozes que ouvimos parecem estar atentas e vigilantes em relação a estas dificuldades. E há outra boa notícia: de uma forma ou de outra, converge-se para a ideia de que formar um atleta envolve realmente a Comunidade – atletas e famílias, clubes e associações, escola e poder público. E uma boa claque. Público que goste mais de desporto do que de ganhar (claro que ganhar é bom). Que saiba dar o exemplo a quem está a competir num campo, na água, a pé ou sobre rodas. Que mostre aos jovens atletas que a meta é boa, mas que é no processo de lá chegar que se se aprende. E esse caminho vale muito. No limite, vale tudo.