Na reportagem de junho, fomos tentar perceber se Amarante, afinal, é para todos. Se as pessoas portadoras de deficiência – sejam munícipes ou visitantes – têm condições de acessibilidade. Não o fizemos com a intenção de apontar o dedo, de denunciar, “apanhar em falso”, com condescendência ou altivez. Nós, A Flor do Tâmega, incluimo-nos no rol de quem podia fazer melhor nesta matéria.
A verdade é que, na maioria dos casos que fomos conhecer, existe preocupação com a inclusão, responsabilização de quem responde pelas instituições e vontade de mudar. O que falta, então, para passar de palavras a ações? Como vimos, muitas vezes é a burocracia: licenças e pareceres de órgãos diferentes, principalmente se falarmos do setor público. Depois, é preciso financiamento para obras, por vezes difícil de encontrar em orçamentos já curtos, como será o caso de algumas Juntas de Freguesia. Outras vezes as instituições refugiam-se, entram num pingue-pongue de responsabilização e as situações vão-se resolvendo com a boa vontade de funcionários e utentes e nada muda.
Facilmente percebemos que, no centro de Amarante, raros serão os estabelecimentos privados de comércio e serviços que garantem acessibilidade a pessoas portadoras de deficiência. Não me parece que o façam por desprezo pela situação, de forma leviana e propositada. Por exemplo, se estiverem situados na “zona histórica”, cá temos as autorizações e pareceres e as ruas estreitas, em que cargas e descargas criam bloqueios. Mas acredito que, na maioria dos casos, simplesmente nunca se pensou nisso. Porque, para a maioria que somos nós, que – felizmente – não sentimos na pele estas dificuldades, são sempre “só 5 minutos” e “é só por uma pessoa, por isso se calhar não vale a pena”. Bem sabemos que é assim.
A boa notícia é que todos podemos fazer melhor nesta matéria e até com mudanças simples. Porque também é verdade que, muitas vezes, basta sermos alertados e sensibilizados. Se calhar, não ocorreu aos proprietários de lojas de comércio e serviços que podem ter uma rampa amovível – de metal leve ou madeira -, que facilmente podem colocar caso seja necessário. E que informação física em braille não é assim tão complicada de implementar. E a falta de soluções – em edifícios públicos e privados – tem impacto na vida dos moradores, mas também na perceção dos turistas que visitam o concelho e frequentam os espaços.
Mas não temos de pensar sozinhos. Há instituições que podem aconselhar-nos: o Instituto Nacional para a Reabilitação pode dar orientação técnica; a Ordem os Arquitetos tem uma comissão dedicada às acessibilidades; os Centros de Apoio à Vida Independente podem ajudar-nos a perceber melhor o quotidiano e necessidades das pessoas portadoras de deficiência; e instituições como a ACAPO e muitas Entidades Públicas Delegadas podem ajudar-nos a tornar os nossos serviços mais inclusivos.
Porque é de inclusão que se trata. De não deixar sozinho quem é portador de deficiência, mas também quem é cuidador. Trata-se de, no mínimo, cumprirmos a lei. Mas isso não chega: temos de querer ir além do que é estritamente obrigatório. Temos de querer que todos se sintam bem-vindos nos nossos sítios, que todos tenham o mesmo acesso que nós temos. Temos de querer que todas as pessoas se sintam acolhidas.
E o que podemos fazer melhor, nós, a Flor do Tâmega? Como é que o nosso site pode ser mais inclusivo? Podemos passar a ter uma versão áudio dos conteúdos e garantir que usamos sempre texto alternativo (alt text), que descreva bem o conteúdo e função das imagens. Podemos tentar assegurar bom contraste de cores, tipos de letra simples e que possam ser aumentados sem quebra do layout. No caso dos vídeos, é bom que incluam legendas sincronizadas e transcrição acessível. Idealmente, deve ser disponibilizada Língua Gestual Portuguesa. Podemos garantir que todas as funcionalidades do site podem ser usadas só com teclado, sem usar o rato. Podemos evitar colocar informação importante apenas em imagens e procurar explicar conteúdos interativos com versões alternativas em texto. Há muito que podemos fazer.
Como é bom de ver, estamos cientes de que é nostra culpa também e percebemos bem as dificuldades de quem quer ter espaços e serviços inclusivos, porque sentimo-las: também nos faltam recursos humanos e financeiros. Mas podemos, passo a passo, aprender mais, ter mais atenção e fazer melhor. Pela nossa parte, há três compromissos que podemos aqui assumir: vamos procurar saber o que pode ser feito a baixo custo ou a custo zero, tirando proveito de recursos de uso livre e da Inteligência Artificial; vamos pedir a pessoas portadoras de deficiência que testem o nosso site e nos digam o que está bem e o que pode ser melhorado; e, feito isto, vamos criar no site uma página de Acessibilidade e Feedback, dedicada ao nosso compromisso com esta questão.
O que esta reportagem evidenciou, além das dificuldades e do muito que há para fazer, é a resiliência e a forma como funcionários, utentes e vizinhos se mobilizam para – na falta de soluções adequadas – tornarem mais fácil a vida das pessoas portadoras de deficiência. E isto é muito bom e não pode ser menorizado. Porque é preciso, realmente, uma Comunidade para haver mudança. Temos de passar para lá da nostra culpa, que é um lugar imobilizador, e começar por pequenas coisas, as que sejam mais alcançáveis.
