Setembro foi o mês de regresso às aulas. As escolas – muito mais silenciosas nos meses de verão – voltaram a acolher o saudável bulício de jovens e crianças, para mais um ano letivo. Mas nem todas as escolas. Como contamos este mês na Flor do Tâmega, entre 2002 e 2014 encerraram 57 escolas primárias em Amarante. São 57 edifícios que, aos poucos, foram desativados. Uns encontraram outras ocupações. Outros mantêm-se desocupados, à espera de uma nova vida.
Reabilitar e reutilizar o património edificado é mais do que aproveitar recursos que são de todos nós e que custam a todos nós, ainda que este motivo já fosse suficiente para justificar essa opção. E também é mais do que preservar a memória e o património, outras boas razões. É, mais do que tudo isso, um modo de viver em comunidade, que deve – sendo realmente adotado – consubstanciar-se em ações como, por exemplo, a recuperação destas escolas primárias: trata-se de viver de forma sustentável.
É verdade que o termo ‘sustentabilidade’ tornou-se num lugar comum. Ouvimo-lo vezes sem conta da boca de técnicos, políticos, professores, investigadores e comentadores. Somos compelidos a mostrar como os projetos e atividades cumprem os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – os famosos ODS – e tentamos perceber de que forma podem ser incorporados no nosso quotidiano. Mas corremos o risco de que a sustentabilidade não passe de uma moda ou de uma utopia, se não a fizermos sair do papel ou do âmbito das intenções. E se não for adotada e implementada de forma transversal e integrada na vida das comunidades e das pessoas. Nisto, têm um papel as instituições e os cidadãos e cidadãs, cada qual com as suas responsabilidades.
Dar um novo uso a edifícios públicos desativados, como é o caso das antigas escolas primárias, pode parecer – e, de certa forma, é – um pequeno contributo para este viver mais sustentável. Mas é de ‘pequenas’ ações, umas atrás das outras, que se faz muito. E com a reutilização das escolas já não se faz pouco: umas acolhem outros serviços públicos, como centros de saúde ou juntas de freguesia, e outras foram até convertidas em habitação, que tanta falta faz. E, nesta linha, que bom seria que estes edifícios (principalmente os que vão continuar a ter uma função pública) fossem transformados recorrendo a técnicas de construção sustentável e dotados de funcionalidades que façam deles edifícios ‘verdes’ e que permitam a mobilidade de todos.
No caso das escolas primárias, falamos de 57 edifícios, alguns dos quais – imaginamos – hão-de continuar fechados e a degradar-se. Parece sensato que, antes de mais, seja dada prioridade à sua utilização para serviços públicos. Mas, nos casos em que não se prevê essa possibilidade a curto prazo, faria sentido disponibilizá-los ao setor privado, para habitação ou negócios. Para isso, seria importante que a Câmara – a proprietária – disponibilizasse uma lista pública e facilmente acessível das escolas que estão disponíveis e clarificasse o procedimento para a sua aquisição por privados (imaginamos que seja por leilão). Sendo um processo transparente e escrutinável, todos ganhariam.
A maior parte de nós há-de ter frequentado uma destas 57 escolas primárias. Primeiro enquanto estudantes, depois como eleitores, já que muitas delas funcionaram anos a fio como mesas de voto. Seria muito bom podermos agora revisitá-las noutros contextos.