Dedicar a reportagem de janeiro a S. Gonçalo era quase inevitável. Difícil era encontrar um ângulo novo, algo diferente do tanto que já tem sido escrito; o tom certo para falar do Santo Padroeiro de Amarante. Mas que não é só de Amarante.
Tinha de ser sobre o Santo (ou Beato), mas também sobre o Homem. Tinha de tocar na dimensão religiosa – que é inevitável -, mas não podia faltar a social e cultural. Tinha de dizer um pouco de quem foi e do que fez, mas não se prender a isso, porque o mais importante é mesmo o que representa hoje. “Tinha de” tanta coisa.
No fim, publicou-se o que cabia em letras que conseguissem ser lidas num tempo razoável. Porque o mais complicado foi mesmo navegar por tanta direção e entre tanto conteúdo. Cada ângulo desta reportagem daria outra e outra: a celebração no Brasil; as expressões em Portugal; as tradições culturais associadas ao Santo; a Igreja de S. Gonçalo como símbolo do culto; a imensa iconografia; os caminhos da investigação científica e tudo o que falta desvendar. Mariana Sá expressou bem estas possibilidades e a agenda que está ainda por cumprir.
E que histórias têm para contar as pessoas? Que pedidos fizeram ao Santo e o que as move na Fé? O que as faz percorrer quilómetros e vir em peregrinação a Amarante? E os que chamaram Gonçalo a um filho ou filha, em honra do Santo? Será que há mais Gonçalos em Amarante do que no resto do país? E zangas com S. Gonçalo ou períodos de descrença, haverá quem os queira partilhar? O que move os não crentes a participarem nas celebrações, que são também um evento cultural?
O que transparece, à semelhança do que vemos noutros contextos, é a ideia de um tecido fabricado com fios de muitas cores que, juntos, resultam numa tapeçaria complexa. Porque as diferentes cores, entretecidas, nem sempre são fáceis de decifrar: a dimensão religiosa, a cultural, a social, a psicológica e, sim, também a económica. Pode, assim, dizer-se que ficamos com material mais do que suficiente para regressarmos a S. Gonçalo num futuro próximo.
Mais uma vez, pudemos contar com a colaboração da Amarante Magazine, que nos cedeu várias fotografias, que muito contribuem para o resultado final. Também aqui há pontes.