Amarante mudou nos últimos 10 anos. Os Censos de 2021 permitem traçar um retrato de avanços e recuos, de aumentos e decréscimos; de um território físico e humano que se vai transformando a par do país e, por vezes, em linha com tendências mais globais. Os números contam, por exemplo, uma história de envelhecimento e de menos população residente, com tudo o que isto acarreta. Mas esta é uma história de números, à qual faltam ainda os rostos e as vozes. É o que nos fica para fazer.
A partir dos dados disponibilizados pela PORDATA, é possível perceber-se a variação entre os Censos de 2011 e 2021, relativamente a indicadores que nos dão uma ideia da maneira como se vive e sobre quem vive em Amarante. A população residente diminuiu, de 56 207 habitantes em 2011 para 52 121 em 2021. O que mostram as estatísticas é que, desde 2011, houve uma diminuição do peso dos jovens e da população em idade ativa e um aumento do peso da população idosa. Ou seja, há um agravamento do índice de envelhecimento, que é agora superior ao do país. Em 2021, nasceram em Amarante 301 crianças (menos do que em 2011) e a taxa de mortalidade infantil foi superior; morreram 511 pessoas; houve 259 casamentos e 84 divórcios. Menos casamentos, mas muito menos divórcios do que 2011. E as famílias unipessoais cresceram 5 pontos percentuais, para 19%. Estes números não são surpreendentes. E podem traduzir-se em relatos de emigração, de mortes por COVID ou no período de confinamento, de menos acesso a cuidados de saúde, de decisões sobre ter filhos num período de incerteza económica, de casais que mantêm casamentos porque não têm capacidade financeira para se divorciarem, de mudanças do estilo de vida. Há muitas histórias para serem contadas a partir destes dados.

E há mais cidadãos estrangeiros: em 2021 já eram 485 (0,9% dos residentes), um aumento que, ainda assim, não equilibra a quebra da população residente. E também aqui há-de haver o que contar: quem são estas pessoas que escolhem Portugal e Amarante e como estão a integrar-se. Um território desde sempre fortemente marcado pela emigração é agora espaço de acolhimento. Talvez algumas destas histórias passem também por músicos da Orquestra do Norte, que tem trazido a Amarante gente de todo País e outras partes do Mundo. Um outro indicador parece apontar para um maior fluxo de pessoas a transitarem pelo concelho: o aumento de alojamentos turísticos.
Já os edifícios novos concluídos para habitação familiar decresceram, de 178 para 81. Pode dever-se ao facto de haver, em 2021, 71% de alojamentos próprios ou ao facto de, diminuindo a população residente, serem precisas menos casas. Ou podemos estar perante um abrandamento do setor da construção nos anos 2020 e 2021 – os “anos COVID” – e os dados de hoje já contarão outra história.
O crescimento do índice de envelhecimento da população residente em Amarante (em 2021, havia 185 idosos por cada 100 jovens) faz adivinhar outra realidade: menos alunos e menos estabelecimentos de ensino. Mas, também aqui, podemos ter histórias de reestruturação e reorganização de agrupamentos e até de reabilitação de espaços e de melhores condições.
Diminuiu a percentagem de desempregados inscritos nos centros de emprego e passou a haver menos Beneficiários do Rendimento Social de Inserção. Podemos estar perante uma melhoria das condições de vida – seria a explicação imediata -, mas é também possível que estes dados sejam explicados por mais relatos de movimentos migratórios, para dentro e para fora do país. Recuou também o número de crimes registados pela polícia – por mil habitantes -, a par da tendência nacional. E aumentaram os trabalhadores da administração pública local.
De 2011 a 2021, os amarantinos passaram a ter menos bancos, mas mais caixas multibanco. Sinais de uma vida moderna, mais dada ao online e ao desaparecimento do “atendimento ao balcão”. Mas é preciso ver como ficam as vidas de quem não tem literacia ou recursos económicos para viver num mundo digital. É importante perceber que outros serviços deixaram de ter espaços físicos em Amarante e que impacto tem tido este fenómeno no quotidiano das pessoas. Passou a haver mais uma farmácia, mas não há dados sobre o hospital que existia em 2011. Ou seja, os dados da PORDATA não dizem que há 0 hospitais em Amarante. Simplesmente não há informação, tal como não há para o país. Talvez esta omissão acabe por representar a real situação que se vive, em termos de cuidados de saúde: há efetivamente um hospital, o Hospital de Amarante, inaugurado em 2013, que veio substituir o hospital de São Gonçalo e integra o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa. No entanto, todos os dias, há amarantinos que se deslocam ao Hospital Padre Américo, em Penafiel, para consultas, cirurgias e urgências, a par dos residentes de mais 11 concelhos.
Continua a não haver cinema em Amarante. Mais precisamente, não há “ecrãs de cinema”, o que representa um recuo numa cidade que já teve uma grande sala. Mas isso, de facto, não significa, em rigor, que não haja cinema: o Cineclube de Amarante vai mantendo atividade no Cinema Teixeira de Pascoaes, às sextas feiras. A alternativa é uma ida a um cinema de uma cidade vizinha ou, quem sabe, talvez os amarantinos também se vão rendendo ao streaming, a par do que vai acontecendo no resto do Mundo. Espera-se que a reabertura do Cine-Teatro, cuja reabilitação deveria ter terminado em 2021, venha alterar este panorama.
Ficam a faltar outros números: da cultura, das empresas, da agricultura e do ambiente. Da justiça, do conforto e das condições de vida. E da mobilidade, sobre uma terra que, sendo um “nó rodoviário”, perdeu o acesso por comboio – a partir do centro da cidade, claro, porque há acesso a partir de Vila Meã – ao resto do País e à Europa. São outras histórias que vale a pena contar. Conseguimos traçar este retrato, sem sairmos da redação e a partir de uma só fonte – a PORDATA. São dados de 2021, pelo que têm apenas 2 anos. Ou, de outra perspetiva, e atendendo às transformações dos tempos mais recentes, já têm 2 anos. É preciso atualizá-los – quando possível – interrogá-los e, acima de tudo, dar-lhes contexto, rostos e vozes. Até porque nem tudo será igual pelas 26 freguesias do concelho, e as estatísticas reduzem e uniformizam. Porque os números podem dizer muito, mas não dizem tudo sobre a vida das pessoas.






Créditos: André Moniz
Nota – A PORDATA recolhe e agrega dados das seguintes Fontes/Entidades: INE, ANSR/MAI, APA/MA, BP, CGA/MTSSS, DGAL, DGEEC/MEd – MCTES, DGEG/MEc, DGO/MF, DGPJ/MJ, DGS/MS, ERSAR, GEE/MEc, GEP/MTSSS, ICA/MC, ICA/SEC, IEFP/MTSSS, IGP, II/MTSSS, ISS/MTSSS, SEF/MAI, SGMAI, SIBS, S.A.,