Numa estrada repleta de curvas e contracurvas, na freguesia de Vila Caiz, em Amarante, há um espaço que respira história. O Restaurante da Pena confunde-se no meio da natureza, guardado por imponentes carvalhos ao redor, repleto de pedra, madeira e grandes vidros. O nome parte de uma coincidência geográfica. A Quinta da Pena, onde está instalado este espaço, procura ser uma forma fácil de os clientes associarem o nome ao lugar.
É a partir da entrada que o restaurante transmite o conforto necessário para uma refeição calma. Ao entrar, os clientes podem ver uma garrafeira bem completa, exibida num móvel antigo de madeira e com peças reutilizadas do antigo lagar. Alguns pormenores nas portas, como as maçanetas em forma de pena e uma frase inspiradora gravada em vidro, antecedem duas salas que se dividem por dois pisos. A música calma e a decoração requintada convidam à contemplação da arte exposta nas paredes.
O restaurante pertence à família de Amadeo de Souza-Cardoso e algumas réplicas das suas obras continuam a ser lembradas nas paredes. Antigamente, este espaço era um alambique, recuperado há oito anos pela mãe de Miguel de Sousa Cardoso, o dono do restaurante, uma mulher que sempre se dedicou ao têxtil, mas que sempre teve curiosidade em explorar a restauração.
A ambição que voltou a erguer este projeto gastronómico e cultural concretizou-se há 13 anos. O reaproveitamento foi feito pelo arquiteto Raul Sousa Cardoso. Miguel Cardoso, o proprietário, tem um percurso diferente do da mãe. Apesar de ter estado sempre ligado ao ramo da restauração, Miguel tirou um curso de desporto, mas só depois de estagiar na área é que percebeu as saudades que tinha dos restaurantes: “só há um ano e meio [2021] é que decidi largar tudo o que me ligava com a área desportiva, para me dedicar em exclusivo à restauração”. A experiência de estágio num restaurante com estrela Michelin foi a prova que faltava para Miguel abraçar, em definitivo, a sua paixão.
Aos olhos de Miguel Cardoso, a cozinha do Restaurante Pena oferece um tempero onde os sabores clássicos são praticamente inegociáveis: “tentamos andar sempre nesta linha de clássicos, nada muito contemporâneo, nada demasiado típico, apostar aquele prato que é sempre confortável, elegante e que nos deixe à vontade para o fazer.”
A ementa apresenta um número considerável de pratos requintados, com um aspeto delicioso, desde as entradas às sobremesas. Logo de início, destaca-se o presunto ibérico fatiado e acompanhado por tostas aromatizadas que abrem o apetite para o prato principal. O bife Wellington com puré de aipo é o best seller da casa, em que a carne tenra aparece delicadamente embrulhada num folhado, acompanhada com o corte da cremosidade do puré. O risotto de cogumelos e parmesão, regado com azeite trufado, também é uma das escolhas preferidas dos clientes.
As sobremesas também convocam a tradição, por isso o restaurante faz apostas de sucesso garantido, à partida. Na lista surge o Petit gateau de abóbora, que se faz acompanhar de um gelado de queijo de cabra, um casamento de sabores perfeito. A doçura da abóbora junta-se ao sabor forte do queijo. Esta é, na verdade, a sobremesa mais pedida. Destaca-se ainda a Pavlova de citrinos e maracujá, novamente com a doçura e a frescura num só prato.
Para acompanhar toda a viagem gastronómica, junta-se uma carta de vinhos extensa. O restaurante procura facilitar as escolhas dos visitantes com a sugestão do vinho do mês. Ao longo da sala, na separação de pedra entre os dois pisos, encontram-se vários púlpitos de vidro, onde aparecem as recomendações que mensalmente se substituem. Para Miguel Cardoso, o vinho tem de ter qualidade, mas a história também é crucial para esta escolha. “O vinho que está aqui exposto é o Natura By Vitor Matos. Cada garrafa tem uma história e é dessa forma que nos identificamos com os produtores locais”, explica o proprietário enquanto observa os contornos da garrafa. Os funcionários da Pena fazem uma formação que pode durar um mês, para apresentarem a marca e o produto ao cliente da forma mais informada possível.
A vista para a natureza acentua-se na sala de refeições do restaurante. As grandes janelas com vista para o exterior, juntamente com a lareira acesa, acrescentam o conforto necessário para os clientes.
Miguel Cardoso mostra-se otimista quanto ao futuro e a ambição que tem para o restaurante ultrapassa as fronteiras do concelho. “Quando digo que pretendemos ser uma referência nacional é porque o restaurante tem que ser um espaço ideal para uma refeição mais intimista, para um momento especial, onde o conforto, serviço e uma boa experiência gastronómica e vínica têm de que ser diferenciadoras dentro do nosso segmento”, assim detalha com notória confiança e ânimo.
É nas paredes rústicas de pedra que a coleção de Amadeo de Souza-Cardoso é bem notória. Enquanto os clientes desfrutam da refeição, podem contemplar algumas das obras do artista amarantino. A decoração ainda é recente. Miguel entendeu que seria adequado apostar numa ligação com o pintor que “agrega valor”: “é um orgulho muito grande podermos ter esta ligação a Amadeo e construirmos, sempre que possível, uma ligação gastronómica e artística em virtude de uma experiência mais coerente e diferenciadora”.
Por isso, o restaurante não serve apenas para animar o paladar dos clientes. Uma boa experiência gastronómica pode valorizar-se com uma aposta cultural única e diferenciadora. O restaurante está envolvido no projeto “Tâmega e Sousa”, depois de participar num concurso televisivo, onde os sabores e produtores juntam-se aos restaurantes locais para mostrarem dotes gastronómicos.
Aberto há 13 anos, o Restaurante da Pena é um dos mais conhecidos em Amarante e a sua envolvência do rústico com o campo convida as pessoas a deslocarem-se à freguesia de Vila Caiz para conhecerem um restaurante que demonstra que a gastronomia pode significar história, cultura e arte.
Texto da autoria de Milene Barros, estudante do 1.º ano do Mestrado em Ciências da Comunicação da UTAD
Editado por Fábio Ribeiro, docente do Departamento de Letras, Artes e Comunicação da UTAD
Reportagem multimédia realizada no quadro da Unidade Curricular (UC) de Jornalismo Especializado do 1º ano do Mestrado em Ciências da Comunicação da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
No quadro desta UC, os alunos são desafiados a pensar o Jornalismo a partir de diversas áreas (editorias) específicas, como Desporto, Política, Justiça, Internacional e Cultura. Foi precisamente nesta última área que os alunos desenvolveram reportagens multimédia como esta que aqui publicamos. Os restantes trabalhos encontram-se publicados no laboratório de aprendizagem associado à disciplina intitulado Passeio Informativo.
Para uma consulta mais específica sobre a área do jornalismo cultural, recomendamos a leitura do artigo científico “A cultura no jornalismo cultural”, de Denise Siqueira e Euler Sequeira”, e da dissertação de mestrado “Gastronomia: prato do dia no jornalismo cultural”, de Renata Amaral. Entre os bons trabalhos jornalísticos nesta área, sugerimos, em Portugal, TSF à Mesa e a editoria de cultura do jornal espanhol El País.
Contactos para mais informações: milenenogueirabarros@hotmail.com e fabior@utad.pt