No meio de uma crise económica e social e sempre na sombra da crise dos media e do jornalismo, esta não seria a notícia mais previsível: uma “nova” publicação jornalística em Amarante. Digo “nova”, porque, como já se percebeu, vai beber ao “velhinho” jornal Flor do Tâmega. Mas não é o “velhinho” Flor do Tâmega. E, sendo jornalismo, não é um jornal. Ou seja, somos uma publicação de “jornalismo lento” (slow journalism). Que é uma forma de dizer que não vamos atrás do que acontece “hoje”, nem publicamos todos os dias. Os nossos trabalhos vão demorar mais tempo a produzir e só vamos publicar uma vez por mês. Mas queremos que valha a pena esperarem por nós.
A nossa equipa é diversa: há gente de Amarante e de fora; jornalistas, ex-jornalistas, investigadores e investigadoras do jornalismo e pessoas que apenas gostam de notícias e de escrever. Temos idades e experiências diferentes. Somos (para já) maioritariamente mulheres. Não gostamos da mesma música nem da mesma comida e não temos a mesma opinião sobre política ou religião. E nenhuma destas diferenças tem peso naquilo que temos em comum: a vontade de fazer bom jornalismo – que interesse às pessoas de Amarante – e a ideia de que o jornalismo é essencial à vida democrática. E este “pouco” que temos em comum chega, porque é o essencial.
Mas podíamos fazer isto tudo com outro nome. Com outra marca. Só que o Flor do Tâmega faz parte da história da minha família: foi lá que o meu Pai trabalhou muitos anos (no jornal e na gráfica); foi lá que eu e a minha irmã (que faz parte desta equipa) passámos muitas tardes, depois da escola; foi lá que aprendi como funcionam uma Linotype e uma Offset; foi lá que vi uma Linotype a ser desmontada e o advento dos computadores; foi lá que me deslumbrei com os tipos móveis e com o cheiro de um jornal acabado de imprimir. Foi lá que dobrei e pus cintas nos jornais “dos emigrantes”, que eram a maneira de saberem as notícias de uma terra distante, num tempo sem internet e sem redes sociais. E, depois, houve um grupo de gente generosa que compreendeu este apelo e resolveu arriscar.
Fazer “jornalismo lento” significa que as nossas publicações vão ser mais raras, mas também, por vezes, mais longas: porque vamos ter mais tempo para procurar, descobrir e fazer perguntas. Explicamos tudo isto melhor aqui e no Estatuto Editorial. Mas queremos ser transparentes: também não teríamos, neste momento, recursos para publicarmos mais. A falta de meios (humanos e financeiros) é uma realidade que há muito se instalou nas redações, grandes e pequenas. Por isso, vamos começar à medida dos recursos que temos. Em breve, vamos ter formas de receber apoios, também do nosso Público, como explicamos aqui. E queremos ter Parceiros na Comunidade de Amarante: escolas, instituições culturais e sociais, fundações e até outros órgãos de informação jornalística que nos queiram propor investigações conjuntas.
Porque queremos trabalhar com as pessoas de Amarante. E isso significa que queremos saber o que lhes interessa ler, ver e ouvir. Que assuntos as preocupam e sobre o que gostariam de saber mais. Mas também significa que queremos fazer parte da tradição jornalística de Amarante. Porque Amarante tem, há muito, rádios e jornais. Não queremos fazer mais ou melhor. Queremos fazer diferente. Queremos acrescentar. Não somos concorrentes das redações que já existem, porque vamos publicar num tempo diferente, num formato diferente, com uma agenda diferente. Queremos ser Parceiros de quem já faz notícias em Amarante e ampliar o leque de informação disponível aos Amarantinos. Porque há sempre lugar para mais Jornalismo.